Desmistificando a lenda de uma alma imortal

16 de agosto de 2013

Paulo contra a imortalidade da alma em Atenas


Paulo contra a imortalidade da alma em Atenas – Podemos perceber o contraste entre a doutrina de Paulo e a imortalidade da alma a partir do texto de Atos 17, em que Paulo foi a Atenas a fim de pregar o evangelho. Já vimos neste estudo que foi do dualismo grego que a mentira da serpente de que “certamente não morrerás” entrou no judaísmo por ocasião da diáspora judaica, sendo os gregos, portanto, ferrenhos defensores da doutrina da imortalidade da alma. Em outras palavras, se Paulo pregava esta mesma doutrina, ele estaria se sentindo praticamente em casa! O que nós vemos, contudo, é que Paulo de jeito nenhum ensinava a imortalidade da alma:

“Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição(cf. Atos 17:18)

Aqui vemos duas coisas que Paulo pregava. Uma delas praticamente todas as religiões cristãs pregam: Jesus. A segunda coisa praticamente nenhuma igreja cristã que crê no dualismo prega: a ressurreição dos mortos. Satanás conseguiu praticamente silenciar as boas novas acerca da ressurreição porque conseguiu trazer o dualismo grego direto para a teologia dos imortalistas. Vemos, por enquanto, que Paulo pregava:

(1) Jesus
(2) Ressurreição

Prova ainda mais forte de que Paulo não pregava a doutrina da imortalidade da alma é o versículo seguinte, que diz:

“E, tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?” (cf. Atos 17:18)

A doutrina da imortalidade da alma era bem conhecida pelos gregos, mas, ainda assim, vemos a afirmação deles de que o que Paulo pregava era uma “nova doutrina”, mais um sinal de que o apóstolo não compactava com a velha e conhecida teologia da imortalidade da alma, que não era nem um pouco "nova" para os gregos. Para os gregos, a primeira coisa que Deus teria implantado no ser humano foi uma “alma imortal”. Paulo, contudo, não faz qualquer questão de mencioná-la:

“Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas” (cf. Atos 17:25)

Paulo apenas faz menção do “fôlego” (aquilo que dá animação ao corpo formado do pó da terra) que resulta na vida, em um ser vivo. Nada de “alma imortal” é mencionada por ele, pelo simples fato de que Deus não colocou uma alma no homem. O que para os gregos dualistas era de todas as coisas a mais primária e importante, para Paulo é desprezada – ele nem faz questão de mencionar junto ao “fôlego” e a “vida”! Disso já podemos perceber o contraste entre a teologia paulina e a dualista com relação à natureza humana. Um pouco mais à frente e o vemos desmoronando ainda mais os pilares da doutrina da imortalidade da alma pregada por eles:

“Porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (cf. Atos 17:31)

Para os gregos, os mortos já haviam sido julgados para serem condenados num estado intermediário ou desfrutarem as delícias de um Paraíso. Afinal, a alma é julgada logo depois que sai do corpo! Para Paulo, contudo, Deus não julgou o mundo ainda (cf. At.17:31). A razão para isso é muito simples: nós só ganharemos vida novamente na ressurreição e, por isso, é na volta de Cristo em que seremos julgados para a vida ou para a condenação (cf. 2Tm.4:1). Novamente vemos o contraste entre o ensino de que a alma é imortal e o ensino de Paulo.

Mais interessante ainda é a segunda parte de seu argumento: “...e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (cf. At.17:31). Aqui vemos que a segurança e a esperança de Paulo em uma vida eterna não se baseava em uma alma imortal que garantiria isso a todos, mas sim na ressurreição de Jesus Cristo, que garante a nossa própria ressurreição! A única esperança para o cristão ser julgado e obter vida é baseado e fundamentado na esperança da ressurreição dentre os mortos, da qual Cristo foi a nossa primícia. Os gregos depositavam toda a confiança deles na esperança de uma alma eterna ter sido implantada neles – e essa alma imortal é segurança de vida eterna, de juízo e, evidentemente, de imortalidade. Quanta diferença para o evangelho bíblico pregado por Paulo!

Isso tudo explica o porquê de os gregos o terem deixado falar sozinho em seguida:

“Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez” (cf. Atos 17:32)

Ressurreição dos mortos e imortalidade da alma realmente não tem nada em comum. Ambos são dois opostos e são também mutuamente excludentes, não se pode admitir a existência de uma alma imortal com a ressurreição, pois a primeira faz com que a segunda seja algo desnecessário e inútil, praticamente sem proveito uma vez que a nossa esperança não seria baseada na ressurreição, mas sim em uma “alma imortal” indo para o Céu e lá ficando eternamente.... independente de ressurreição ou não!

É claro que tal ideia grega não condiz com o Cristianismo puro, não bate com aquilo que Paulo ensinava em Atenas, não combina com aquilo que o apóstolo ensinava em lugar nenhum, pois ele nunca, em circunstância nenhuma, fez qualquer menção de imortalidade da alma ou de estado intermediário em seus escritos, porque sabia que tal doutrina é uma lenda à luz da Bíblia Sagrada, a nossa verdadeira fonte de fé e ensino. Por essa razão Cullmann concluiu:

"Em suas viagens missionárias, Paulo certamente encontrou pessoas que eram incapazes de crer em sua pregação da ressurreição exatamente em razão de acreditarem na imortalidade da alma. Assim, em Atenas só houve zombaria no momento em que Paulo falou da ressurreição (...) Com efeito, para os gregos, que acreditavam na imortalidade da alma, pode ter sido mais difícil aceitar a pregação cristã da ressurreição do que foi para os outros. Por volta dos anos 150, Justino (em seu Diálogo, 80) escreve sobre as pessoas, 'que dizem que não há ressurreição dos mortos, e sim que imediatamente após a morte a alma deles ascende ao céu'. Aqui se percebe claramente o contraste"[1]

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

Extraído de meu livro: "A Lenda da Imortalidade da Alma"


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O Cristianismo em Foco (Reflexões cristãs e estudos bíblicos)
Preterismo em Crise (Refutando o Preterismo Parcial e Completo)



[1] CULLMANN, Oscar. Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos? Disponível em: <http://www.mentesbereanas.org/download/imort-ressur_folheto.pdf>. Acesso em: 16/08/2013.
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